Quando o reencontrei estava meio
confusa. Não era uma espécie de desorientação, compaixão, mas nutria uma
carga de humilhação tão profunda que a única coisa que ainda conseguia
fazer era chorar.
A primeira lágrima caiu discreta.
Consegui segurá-la, mas era como se ela insistisse em rolar. Era como se
nem ela mesma suportasse a amargura na qual se prendia. Foi terrível
aquela sensação de solidão! Tudo o que pensava era em encontrá-lo. Já
havia sofrido demais até aquele dia.
O meu noivo, na verdade, estava à minha
espera, mas eu não o queria por perto. Estava magoada, ressentida. Não
sei bem se com ele, ou comigo mesma, pela teimosia em fazer as coisas
que queria, até desapontá-lo de vez.
Eu o amei mais do que tudo. Mas aquele
amor já me sufocava a mente e o coração. Sei que fui ingênua demais
achando que seria feliz longe dele. Disse, certo dia, que não o queria
mais. Para ser honesta, não disse, mostrei.
Um dia me disseram que gestos falam mais
do que palavras. E eu sei que o gesto que fiz, abandonando-o, disse
tudo a meu respeito.
Ele nada fez, e nada pôde fazer. Dei um
tempo – ao meu modo – naquele relacionamento unilateral. Já fazia tempo
que não me sentia amada. Na realidade, isso era uma sensação enganosa.
Não por culpa dele, mas minha. Inteiramente minha. Eu era exigente
demais, boba demais para aceitar seus conselhos.
Já ele era tão inteligente!
Aconselhava-me sobre as mínimas coisas... Mas eu fui tão fútil, tão
desonesta e infantil! Meu Deus, como suportar essa distância? Sinto-me
uma poeira longe dele. O meu primeiro amor, meu único e verdadeiro amor.
Assim que subi a escadaria de sua casa,
tive uma sensação estranha. Uma mistura de desprezo e alívio. Acho que
nunca vou conseguir explicar isso, mas, pela primeira vez, me percebi
amparada.
Disseram-me para esperá-lo. Foi o que
fiz. Sentei-me em uma confortável poltrona, e pedi a Deus que ele me
recebesse bem. Meu ex-noivo não demorou a chegar. Quando soube que eu
estava ali, veio imediatamente ao meu encontro.
Não o vi chegar.
Mas quando apareceu, já estava à minha frente e eu nem havia percebido. Estava com os meus pensamentos tão dispersos...
Bom... Não sabia bem como agir, se me
desculpava ou me derramava em prantos. Se implorava por seu perdão e lhe
pedia mais uma chance, ou saía correndo dali.
A única coisa que eu sabia, porém, era que ele queria me dizer alguma coisa. Fechei os olhos e aguardei.
continua...
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