Hoje eu acordei mais cedo que os outros
dias. Não sei bem o que está acontecendo, mas não é de agora que não
consigo ao menos dormir bem. Aliás, esse tem sido um dos meus dilemas.
Acordo no meio da noite e não consigo mais sonhar. Está tudo escuro, e o
meu receio parece sempre se concretizar.
Até saí com alguns amigos, dias atrás.
Fui com a minha prima a uma balada de final de semana. O lugar parecia
interessante. Havia muitos garotos e moças bem vestidas, mas o meu
espírito não estava muito para curtição. Eu até queria conhecer outras
pessoas, interagir, mas minha prima tomava a atenção de todos para si.
Também, com aquele vestido preto - que na verdade era um top de outra
prima -, fazia toda a diferença nos olhares dos demais. Eu fiquei de
longe. Percebi que não eram para ela que olhavam, mas para o seu corpo –
o seu lindo corpo escultural de mulata legitimamente brasileira.
Bia, porém, estava tão empolgada que nem percebia os olhares mais indiscretos. Ou será que percebia e não ligava? Bem, não sei, mas certamente conseguimos conhecer várias pessoas. E durante a noite toda tudo o que rolava eram alguns goles de álcool e muita dança. Bia parecia à vontade, mas algo dizia que nem tanto.
Parece que é assim, sempre que acho
estar bem, rodeada de pessoas aparentemente boas, é como se tudo aquilo
fosse uma verdadeira farsa. Tudo uma mentira tão incisiva e milimétrica
que fica impossível enxergar a olho nu. Porque é uma mentira que vem de
dentro, e por isso, imperceptível.
Quando amanheceu, voltamos para casa.
Dormi e acordei mais de meio-dia. Que coisa, nunca havia dormido tanto,
eu acho, mas foi uma parte do dia que se foi e não precisei lidar com os
meus problemas. Não precisei me justificar, nem lamentar. Apenas dormi.
E dormi tanto para descobrir que nos sonhos as mentiras tornam-se
verdades.
Mas hoje foi diferente. Nem o sono me quer mais. Seria isso uma espécie de depressão? Não creio, deve ser apenas um vazio mesquinho que logo passará.
continua...
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