Fiquei tão impressionada, que imaginei ser uma surpresa da parte dele. Mas aí ele disse:
– Precisamos conversar. – Assim, bem seco.
Na hora senti um gelo na espinha;
comecei a ficar nervosa, mas procurei não demonstrar. Não sei se
percebeu no momento. A minha mãe se aproximou e perguntou se gostaria de
tomar café. Até ela ficou surpresa por vê-lo ali àquela hora da
manhã...
– Não, obrigado! – Respondeu, da mesma forma seco.
Estranhei o fato de ele estar com a
mesma camisa xadrez e a mesma calça preta do dia anterior. Também
parecia cansado, como se estivesse passado a noite em claro. Já eu não
conseguia entender o motivo dele estar na minha casa tão cedo.
A minha mãe se afastou, e ele começou
falando várias coisas. Falou da família, da faculdade, dos seus planos
futuros. Vi que estava enrolando, mesmo assim não queria deixar de
ouvi-lo. Acho que eu já imaginava onde a conversa ia parar. Eu tinha
medo das próximas palavras dele, da minha possível reação, de uma
inesperada decepção ou de ver que o meu castelo construído com tanta
ilusão estaria se desmoronando.
Eu não queria saber do futuro, do que
ele iria falar nos próximos segundos, não queria sentir nenhuma dor. Não
naquele dia. Não causada por alguém que tanto amava.
Enquanto ele falava, a minha reação era
de observar cada detalhe do rosto dele, cada gesto, expressão... Para
mim, qualquer coisa que falasse com a boca ou com o corpo era um indício
de para onde a conversa iria nos levar.
Acredito que desde o início eu já
soubesse. Mas, como eu estava rendida... Não queria constatar o meu novo
fracasso, e ter de encarar a minha mãe, meus pais, meus irmãos. E ter
de explicar o motivo do fim do relacionamento, e ver nos olhos de cada
um a minha imagem refletida de tristeza, o olhar de pena...
Foi quando coloquei os pés no chão para voltar a cair. Só ouvi quando ele disse:
– ... Foi muito bom, você é muito especial, mas prefiro terminar o namoro...
Chega! Não me lembro de mais nada. De
bom aquele relacionamento não tinha nada. Se tinha, então por que
terminar? De quem era a culpa? Qual o real motivo? Não consegui resposta
para nenhuma dessas perguntas. Estava atônita, arrasada, frustrada.
E o grande Dia Dos Namorados? Acabou antes mesmo de começar.
continua...
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